quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O amor da flor de cactus.

Uma linha te partindo crucialmente Inês,

Bem ao meio.

É uma linha de amor, Inês.

Não de dor.

Mas te parte, te corta, e fere.

Ao meio Inês, bem ao meio.

Inês

Sozinha

Amor

Paixão

Uniram as mãos

E partiram

Batendo o portão.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Espiral.


Dentro de um sonho
que mora dentro de um abraço
onde pairam tantas almas
um sopro de tantas vozes
transitam idéias.

Transcendem, metafísicas azuladas
de dentro de um abraço
de dentro de um sonho
feito espiral.

Preparar o plantio
do coração um ventre puro
do coração uma terra fértil
para receber luz
para dar à luz
para que seja luz!

De onde se parte
se chega
reencontro
em si mesmo

energia inundada
de alma e matéria
onde o tempo não passa
e não passa de convenção.

De dentro de um abraço
de dentro de um sonho
em espiral:
um sorriso de engolir luas cheias.

sábado, 30 de outubro de 2010

Me quedo contigo.

nos quedamos em silêncio como acontecera outrora,
mas pela primeira vez tal silêncio não me constrangeu.
aquele silêncio que resulta da mistura do ter tanto que dizer
que se prefere calar.
aquele silêncio que diz além das palavras, e aquém de um abraço.
tenho dúvidas se vivo ou pairo,
plano suavemente sobre mim mesma,
me observo de perto, mas de fora.
e dentro de mim, só há o teu encontro,
parte diluida do que sou.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Vientre estrellado.

olhos abertos
janela do ego
esvaziar-se de si
cessar o eu
olhos fechados
a alma devora
o cheiro de mar
que insiste, e baila
enquanto a noite dorme
em ventre estrelado.

domingo, 26 de setembro de 2010

Tua.

Nego- me. Nego-me estar em qualquer lugar que não seja aquela sala borrada pela lua branca. Recuso a materialidade presente. Quero me prender naqueles exatos momentos... Quero teus braços ao redor do meu corpo me apertando contra o teu... sentir teu coração bater bem perto do meu...te fazer carinhos com tanta força que eles possam beirar uma doce agressividade. Quero por tudo, permanecer naquele encontro. Trocaria qualquer presente e futuro pra me manter presa naquele recente passado. Quando vou embora, parece que aquilo tudo só aconteceu dentro de mim. A lua nos dá a benção, pressas horas nunca se findarem. Um turbilhão de sensações aquém e além dos racionais limites da matéria, e eu nem sei dizer qual delas mais me atrai. Se a sublime alma de quem me apaixono, ou se o calor rasgante do qual sou totalmente dependente feito viciada., tua pele! Enquanto eu to aqui contando, eu vou perdendo um pouquinho pro papel, por isso hesitei bastante em tecer tais palavras...mais uma vez fico entre ser amante fiel do que se diz, entre a barreira admirável do que não pode ser dito. E eu vos digo: aqui não há sobejo do que sinto. Aqui não há réstia desse sentimento. E eu queria relembrar sensitivamente cada momento presente, passado recente, presente constante em mim. Cada pedaço teu, cada timbre da tua voz em cada exata palavra, o pulsar da tua respiração em cada olhar lançando sobre mim, imersa na tua alma!
Nenhum amor que se entregue aos teus braços, nenhuma que se ponha a seguir materialmente contigo aonde quer que vás, estará tão presente quanto eu. Eu sempre estarei mais. Tua poesia. Tua mulher. Tua flor. Quero-te em pólos unidos e opostos, quero-te em yin e yang. Te amo com doçura e com a raiva de te amar ser mais forte do que quer que seja que eu possa sentir, de não poder resistir. De não querer resistir. Nada é meu, e eu me recuso a aceitar a materialidade que não seja aquele passado presente constante em mim. Mas eu tenho esse amor, que me faz sentir imortal diante de todos os outros seres terrenos e extraterrenos. É tudo que tenho, e nada me tira o que de mais bonito eu levo comigo. Dor? amor e dor estão sempre de mãos dadas, arriscaria tudo de novo com paixão. Se te vás, de mim a dor é inevitável. Mas também com ela eu já aprendi a lidar...arcar com as conseqüências que me cabem ao que me proponho. Talvez a saudade seja o preço que eu tenha que pagar por não estar pronta em partir pro mundo contigo. Mas saber que há ainda uma vida inteira, e algumas outras pela frente...e que com essa força que nos une, o encontro acontecerá sempre e mais uma vez, isso pode parecer vão ou frívolo, mas me conforta no desespero e em último caso. Me levas a pólos opostos que são um só, pela unidade do universo. Contigo eu me sinto entre os opostos que fazem partem de um todo Taoísta. Levas-me do ciúme irracional até a mais meiga compersão. Me levas a flutuar, só de me dar o que nunca te pedi, e que eu nunca vou perder. Negue, parta, suma. Não interessa. Não dá pra ser diferente. Teu amor pagou minha existência. E por nada eu abriria mão disso. Com tantos possíveis encontros no mundo, logo eu e você, né? As vezes parece um presente-castigo. Mas um presente que eu não trocaria por temer castigo nenhum. No fim das contas sabemos que nada além importa. que nosso encontro é surreal e nada mais tem seu lugar. Abro minhas portas e janelas, abro toda minha pele às tuas mãos. Espero-te, te recebo, te deixo partir, não te peço nada, quero muito, me contento com bem pouco, porque meu desejo não tem fim, e por não ter fim não tem pressa,não tem pressa porque nunca será saciado... não faz parte dos meus anseios, porque numa freqüência de cachoeira, sempre se renova. Te encontro em tudo que me encanta, em tudo que é bonito, na grama verde, no pôr do sol, filhos, o mar, todas as luas cheias me remetem à você. Tua freqüência fez nascer: poeta. Aprendi a apreciar palavras com fervor e silêncio com contemplação. Homem e mulher, fervor quente de paixão, freqüência tênue de amor antigo. És incansavelmente o que me inspira, e com todos esses sentimentos aos quais tua luz me propaga...eu vou escrevendo pela vida inteira, numa tentativa que já começa derrotada, de expressar o que explode dentro de mim. De toda forma, é esse sentimento que me faz sentir especial e sobre-saliente entre qualquer pessoa. Faz-me sorrir por dentro, abro-me numa flor feito sorriso. Porque o mundo iria ter importância? nada mais terá. Depois que eu tiver aquela noite comigo todos os dias de minha vida. Seja qual for a vida, seja o que for viver.
Porque se ver Bethânia cantar não me fizesse voltar a escrever...nada mais faria! =))))

domingo, 1 de agosto de 2010

Constatação.

Desejo intenso e pleno de liberdade tem tudo a ver com solidão. Mas isso não quer dizer que eu tenha medo. A liberdade te desprende gradativamente do apego execessivo, e te leva ao encontro contigo. Não há liberdade sem autoconhecimento, liberdade sem autoconhecimento não é caminho, é perder-se entre uma imensidão de mundos. Livre é amar sem tantas amarras, e deixar ir sem tanto dessassossego, serenidade e entrega ao presente, e ao fluxo natural natural de tudo.
É, tô constatando, ainda.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Diluir e partir.

Mato seco, teto enxuto, terra árida, chão partido. Olhos secos, rosto enxuto, pele árida, coração intacto. Era assim onde Lia fazia sua morada. Onde o sol desperta mais cedo e o céu é bem mais bordado de estrelas. A poeira é parte que integra a rotina.
Mais à frente, já bem perto da sua casa, havia uma rocha gigante, dessas bem grandes mesmo que não se vê em qualquer lugar, parecia mais uma rocha cuspida de outro plano dentro do universo. A rocha gigante, a preferida de Lia, era pra ela homem. Desde criança ela a chamava de Rocha Vladimir. Rocha Vladimir ficava num dos pontos de mais altitude de onde Lia morava, e tinha um formato geograficamente divino e maravilhoso. Vladimir acumulava água das chuvas, virando um imenso e lindo lago aos olhos dela, e as águas...águas sempre encherem os olhos de Lia: com alegria, quando chovia, e de dor quando perdiam-se pelo caminho. Muito impressionada ela ficou quando ouviu os mais velhos comentarem sobre o homem ter ‘pisado na lua’, e achou uma inutilidade sem tamanho quando todos foram até a casa do prefeito assistir tal cena na TV. Na sua cabeça, era tão claro que não só o homem pisou, quanto habita, não só a lua, quanto o universo em sua forma plena.
Não tarde, e Lia, já mulher, terráquea que era, ou é, ou será, ou nunca foi....somos? enfim, não tardou para que Lia viesse a ter suas primeiras experiências extraterrenas por assim dizer, e tudo tinha a ver com Vladimir. Sempre que passava próxima a rocha tinha sensações extremamente diferentes, sentia uma espécie de calor na nuca, olhos, orelhas, suas mãos pareciam carregar duas bolas de fogo. Tentava ignorar tais sensações e continuava a caminhar. Suas tias diziam ‘menina, isso é coisa do demo!’.
Tempos depois, num dia de muito calor, Lia passando novamente junto à rocha, mais uma vez em meio a essa obscura sensação, começou a ventar sopros fortes em suas pestanas, e com isso, não resistindo, caminhou até Vladimir, e sentou-se contemplando aquele verdadeiro espelho d’água. Em volta, toda ramagem era flamejante, o sol desbotava sua luz nas plantas outrora verdes, agora não, agora tudo é de um tom alaranjado cruel. Ficava pensando: ‘como é que a terra é redonda e a gente não cai? como a água fica ali quietinha? sem escorrer?’ Lhe disseram que era a tal da lei da gravidade, a gravidez cujo feto é o ser humano. Mas Lia nunca compreendeu muito bem isso. Sentada na rocha, gostava de olhar pro céu levantando e descendo devargazinho os olhos, invertendo a visão: vendo o céu na água e a água no céu, até ficar sem saber onde era céu e onde era chão. Um verdadeiro espelho cristalino. Sentia algo de muito magnético naquela pedra e quando cheia d’água... era mais ainda...era como uma espécie de destino implacável que unisse Lia à Vladimir, e ela não podia fugir disso.
Muitas trocas intensas ocorreram em poucos intervalos de tempo. Intensas trocas magnéticas até a linha que limita a matéria. Nisso, Lia conhece Ernesto. Um moço lindo, inteligente, adorava ler poesias na janela de sua amada...perfeito?? O único problema é que Ernesto era uma rapaz muito realista, e olhe que eu nem vou discutir aqui que realidade é questão de ponto de vista porque eu já me permiti muita prolixidade. Em conseqüência, sempre que Lia sentia um embaraço com toda essa história da rocha e de suas experiências em meio aos limites da matéria, ele se colocava muito cético, chegando o dia em que cansou e disse: ‘minha filha, você é louca’ e foi-se. Assim aconteceu sucessivamente com todos os seus namorados, todos a taxavam por ‘Lia, a louca da pedra’. A cidade INTEIRA a via com péssimos olhos. O prefeito chegou a declarar que iria triturar Vladimir e transformar em paralelepípedo, coisa que ela nem sabia o que era. Pois ela foi até a casa dele, e disse: ‘se fizer isso, te quebro a cabeça ao meio’. E ficou por isso mesmo, porque ‘com doido não se brinca’.
Numa noite fria, Lia acordou-se de madrugada com o vento que abrira sua janela, sacudindo bem forte a cortina, voltando a sentir aquele calor na nuca, mãos e orelhas. Não conseguiu mais dormir, nem fechar a janela por não poder conter a força do vento. A plantação toda estava em diagonal, até as nuvens o sopro do vento botou pra correr. Parecia até que o céu ia se abrir. Pulou sua janela e quase planando, chegou até a rocha para mais uma intensa troca de carmas positivos. Suas irmãs sonhavam em casar e ter filhos. Lia a louca de pedra que era, buscava o além-mundo, ela era o além-mundo.
Deitou-se sobre a rocha, seu vestidinho florido, pés delicados pousados em repouso, exalando um aroma indescritível. A água da pedra estava secando, e a madrugada fria ia dando espaço pro sol partir o solo. Um processo sereno, inerte, que fez viável sua partida. Desmaterializou-se Lia, desmaterializou-se a rocha, e a antena parabólica do prefeito. Lia nunca contestou seu destino de unir-se a Vladimir, buscava a plenitude da entrega além da sua existência terrena. Deitada, olhos fechados, cabelos em meio a frieza do sereno da madrugada...e o calor dissolvendo gradativamente...primeiro cabelos, pêlos, pele, poros, e alma. Ficando de Lia apenas o algodão do seu vestido.

domingo, 25 de julho de 2010

Aparecida.

Aparecida, aparição
apareceste enfim
a amparar-me então.
Surgistes feito sombra ao sol:
insistente, efêmera,
insistentemente efêmera.
Maria Aparecida
em minha vida
és perfeita devoção:
devaneio, aparição.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

78 rotações.

De embreagar-te a minhalma.
Todos os poros abrem-se e eu antes do encontro, matéria, sou diluída na luz do que és ao lado meu. Parte minha partida por encarnar, voltemos juntos ao que fomos outrora: meteoro cosmopolita. Planar juntos sobre o universo, nosso destino, meu doce insano talante.

domingo, 27 de junho de 2010

Inferno astral.

A tua presença, presente se faz, flor bela, espanca a mim de amor.
a luz amarela do dia, esquenta as folhas, esquenta asfalto, e eu inerte, morro um pouquinho por dentro. a luz azul de tua áurea, só de em ti pensar, queima minha alma, toca fogo em meu corpo, acende meus olhos pro dia. o que és? de onde vens? como podes pedir tão pouco e ao mesmo tempo levar tudo, tudo de mim?? que direito tens de adentrar todos os poros de minha pele e conhecer até a raiz de meus cabelos sem nunca ter pedido qualquer permissão?
A tua presença, adentra todos os feixes de luz da casa do que eu sou.
A tua presença paralisa tudo ao redor e eu vivo por dentro, como só vivo por ti. Despertas um outro eu, e que querendo ou não, sou eu verdadeiramente.
Aliás, o que é verdade quando o que me prende és tu, absolutista?
A minha vontade de ti, percorre minha nuca, e baila por toda coluna vertebral.
meu desejo deseja um caminho que até meus pés já conhecem.
teus olhos perfazem a rota completa do que eu sou, fui ou desejo ser.
nossas partes imortais vieram brincar de se pedir e se perder neste modo de encarnar...
e o que há pra aprender? se o que eu busco é apreender, você, infinitamente você.
eu deixo viu? deixo todos os meus princípios libertários quando eu penso em você. Modernidade? vá lá, viu? quero aqui, aqui, junto, perto, cegamente! tragar-te até a última ponta e quiçá o filtro também. sem nunca cansar. e cansar faria parte também.
Pode ser que querer seja a graça, e te ter me desgrace. Mas quem há de se importar? se perder, se perder...eternamente quero trilhar este caminho. Inferno astral meu, és minha perdição, perco ação, razão.
pede pouco, me leva tudo, incendeia, incandeia. e parte, reparte, é a arte, essa é a arte.

"Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar.... (Florbela Espanca)

Florbela porque ela é ao mesmo tempo submissa do amor arrebatador e expressão do amor livre de um jeito que eu nunca vi.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Parto para dentro.

I

Que volte a ser só alma
a energia que este corpo encasula
que fuja deste mundo posto
que o homem constituiu
só de matéria inútil
necessidades e comportamentos vãos.

II

Que volte a ser só alma
devolvo ao titular que a esta matéria
emprestou-me.
Sem desdém, meu senhor,
é que sinceramente, a mim não agradou.

III

Que volte a ser só alma
deixando de ser só RG, CPF e título de eleitor
deixando eu de ser pai, amigo, irmão
que eu me dilua, sendo alma, o que sou!

IV

Que volte a ser só alma
tome aqui o meu eu
que na verdade, nunca me pertenceu
isto, isto reprimido pelo corpo em que estou
nunca me representou.

IV

Que volte a ser só alma
deste mundo que distorce
que eu possa voltar a ser só alma
quero contemplar a lua em todas as dimensões
e as dimensões? que serão quando eu for só alma?

V

Que eu volte a ser só alma
voar em sonhos só não me basta
quem nesse mundo viver satisfeito,
é insano de algum jeito!
quero abraços no firmamento,
beijos doces pelo espaço,
quero ver marte de cabeça abaixo
quero ser quantos tiver desejo.

VI

Que volte a ser só alma
sentir mais de perto o que desconheça
oque me couber
que valha
e venha até mim
como da primeira vez.

Que volte a ser só alma
que me liberte do que me perece.

- Morrer? a maravilha de nascer pros sublimes mundos.

Ernesto Luna, Recife, 28 de Maio de 2010. E uma lua que...putaquepariu, nesse céu mundano de almas inertes.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Meteoro cosmopolita.

Vinte e três, era o dia.
Vinte e três de São Jorge, mas no caso, era o vinte e três de São João.

Porque chegar assim, e iluminar tudo, tudo ao redor?
Ela tem uma chama, sabe? Uma chama inevitável, não há como fugir.
A qualquer lugar que adentre, pronto, ta lá ela e essa luz toda que não tem como não se sentir seduzido. Mas eu digo seduzido assim, em vários aspectos.
O problema é que ela sabia disso, sabia disso tudo. Mas o pior mesmo é que ela não dava a menor importância. Era extremamente bonita na sua discrição, era uma verdadeira discrepância o tanto que expandia sua luz, na proporção de que andava discretamente entre os mortais, sabe? Porque a mulher que é assim, sinceramente, a mulher que sabe o quanto brilha, se apaga lentamente na convicção. Mas ela não.
Ou não sabia, ou disfarçava muito bem.

Entrou na minha pequena casa, que ficou menor ainda pro tamanho dela. A casa toda tomou uma cor alaranjada, que eu até esqueci que chovia lá fora. E olhe que chovia forte, o céu era cinza. E eu nem lembrei que fazia frio quando ela me abraçou. Sua matéria parecia mais caída do céu, cuspida de um meteoro, quente, colorida, sólida. Eu só pude me apaixonar. Era linda também nos traços, boca, nariz, olhos. Não tinha verdadeiramente nada demais, nenhum atributo exageradamente bonito, mas poucos homens eram capazes de não olhá-la até constrangê-la.

Clara era nossa companhia, tocando baixinho no rádio. Bonitinha a cena, sabe? Parecia cena de cinema nacional. Mas sinceramente eu só notei isso depois que ela foi embora, não notei, não ouvi. Guardei minhas atenções pro que havia a minha frente. Eu fazia sempre isso, sugava mesmo, lavava bem a vista quando ia encontrá-la, porque meia hora depois da partida, eu já não conseguia mais formar aquela imagem na cabeça. E eu me divertia sempre remontando as cenas que tinha vivido com ela, devagarzinho, pra aliviar a saudade. Parecia até uma lenda. E eu não sabia nunca quando ela ia voltar. Ela nunca sabia, nunca dizia, apenas surgia, e ia... como num ciclo vicioso. Mas eu sempre tinha certeza que ia tê-la novamente, não quanto ou quando, mas no íntimo, eu sabia que não dava pra ser diferente. Eu sabia que ela ia me amar e me deixar na manhã seguinte, sem cerimônia, que não ia me ligar pra dizer que me amava. Como eu pude ainda assim me entregar tão por completo? sabendo, lealmente, que com ela sempre seria como apostar na sorte? que ela sempre seria fiel as suas vontades, e que ao passo que amava o mundo inteiro da maneira mais generosa possível, era também tão docemente egoísta? seria frustrante fugir. Inevitável até, eu sabia...

Sentia que de verdade, já havíamos vivido em outros planos e já nos atraíamos desde então. Como se quimicamente ou magneticamente isso pudesse ser explicado. Mas eu juro, nunca ninguém tinha conseguido mexer tanto comigo. Eu sei, eu sei. A gente conhece e ama muitas pessoas diferentes e com cada uma delas é diferente, não dá pra comparar, mas também não dá para não comparar com ela. Não era a melhor, não era a especial, era a mais diferente. Mais forte. Me amava também, eu bem sabia, e ela, como sempre foi expressiva, sempre me fez saber. Mas não era suficiente, não era convincente, eu sempre quis além do seu amor livre. Eu queria mais. Eu queria ela. De corpo inteiro e ainda mais sua alma.
Ela era a única mulher que eu sentia, na vida, vontade de deitar, abraçar...e ficar por horas, sem me mexer, só sentindo bem de perto o pulsar da sua respiração...seu ar, outrora meu ar, entrando e saindo devagar dos seus pulmões e narinas...como num ritual, como um mantra.
A vela acesa e a noite caindo lentamente... as gotas vindo do céu e trazendo consigo a noite...Dalí na parede, Clara Nunes no rádio...fumaça e luz dentro da minha casa. O mundo chovendo, e meu coração na mão. Nas mãos longas, de carinhos sutis e fortes, como o sentimento daquela mulher.
Que foi embora e me deixou fazendo uma prece, pra Obá, só pedindo pro tempo passar bem depressa pra ela voltar. E de novo, encher a casa do meu coração com sua auréa de meteoro cosmopolita.
Ernesto Luna, Recife, 25 de Maio de 2010.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Eu lírico

Ernesto Luna, nasceu de um poema,
De um poema bêbado e revolucionário.
Filho do ventre do mundo, e do sangue,
parido da cachaça e das palavras,
filho da lama, e da poesia marginal.
Ernesto, guerrilheiro da saudade,
poeta metropolitano,
armado de rimas, de versos soltos,
com a alma cheia de cantos,
do amor e da lama,
de prazer, e de dor.
Ernesto bebe da nascente do mundo plenitude, liberdade.
Ernesto Luna nasceu de um amor,
e da necessidade de se falar dele,
de um amor que nunca morreu.

E agora eu sou ele.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ceticismo e as instituições panópticas


Do ceticismo.

O ceticismo carrega o pressuposto de que não devemos crer em algo que não possui nenhum fundamento para que devamos supor que seja 'verdade'. O ceticismo basicamente veda a atitude de acreditar por acreditar. É importante, contudo, colocar a idéia de que o ceticismo absoluto é auto-destruídor, pois ao afirmar que o conhecimento não é possível está expressando com isso um conhecimento. O fato é que se nós todos aplicássemos doses céticas ao nosso dia-dia, nossa vida em sociedade estaria verdadeiramente comprometida, visto que quando colocados à salvo dos valores céticos o sistema político e a religião são incotestáveis, irrepreensíveis. O poder disciplinar perderia sua força, pois as instituições teriam seus poderes dogmáticos amplamente inviabilizados, o que impossibilitaria um perfeito controle e vigilância do sujeito individual.

Do poder disciplinar.

O poder disciplinar para Michel Focault é a produção positiva de comportamento, é o modo de produção de verdades da sociedade moderna. A partir de procedimentos de vigilância e registro dos indivíduos é que se estrutura o controle do comportamento. A sociedade disciplinar é povoada de práticas e instituições reiteradas que determinam o que é normal e o que é patológico, verdadeiro ou falso, certo ou errado. Para Focault, escolas, prisões, hospitais, todos tem o intuito de trazer de volta os indivíduos que fugirem de tais padrões de normalidade impostos (ou impedir que fujam) através do discurso jurídico. O poder disciplinar põe rédeas, cercam o indivíduo. As instituições 'panópticas' controlam o tempo, os corpos e as mentes. Em tese, o poder disciplinar objetiva a manipulação da existência por inteiro do indivíduo, marginalizando os que ousarem fugir à sua regra, reprimindo a natureza humana. Para Bertrand Russel em ENSAIOS CÉTICOS, a regularidade e a rotina impostas pela sociedade moderna exercem controle sufocante a questões que deveriam ser livres (arte, amor) e deixam fluindo livremente seus opostos, como a crueldade a inveja e o ódio, cultivados com plena devoção, sempre tão presentes no viver do sujeito moderno.

* Dentre os dispositivos de vigilância do início do século, podemos destacar o Panóptico, um mecanismo arquitetural, utilizado para o domínio da distribuição de corpos em diversificadas superfícies (prisões, manicómios, escolas, fábricas). O Panóptico era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na torre havia um vigilante.

* Ou seja, a idéia do controle da estrutura social panóptica é a de que você não sabe nunca se tem ou não alguém na torre, e de qualquer ângulo você vai estar sendo observado, e portanto, regido.

domingo, 25 de abril de 2010

Dalí na parede nos revela




Dali na parede nos revela



Nada está como é



Nada é apenas o que parece



Tudo é mais ainda o que não se vê



Mas o que parece





O que é?





Só nós



A fumaça em arabescos flutuando com plenitude



E Dali na parede



Estranhamente a nos observar sem pudor



Com seus olhos e múltiplas faces





Dali na parede



Eu e você



Dali na parede mevontades



De te colocar na parede



E te descobrir as múltiplas faces





Dali na parede



Eu e você ao chão



Sob ângulos e ângulos e posições.

Emoção atemporal

Um encontro entre os dedos,
um breve olhar:
e eu a um toque do abismo
a um sopro da plenitude.
Teusmeus braçosabraços
minutos de contemplação...
e eu pouso na inércia do ar.
Sendo assim:

Onde vou planar
sob o acidente dos teus lábios?
Limbo! Azul de mar...

Amor dos tempos de minhalma
não me cabe pressa de viver contigo
já vivo por toda eternidade
e uma vida nessa história toda
é um beijo na tua boca - emoção atemporal.

quinta-feira, 25 de março de 2010

No bem da mulher amada

Nos olhos dela eu vejo
uma foz iluminada
a cabeça escancarada
pra sanar o meu desejo
se ela é dona do ensejo
viajo sem ter avião
atravesso o mar na mão
sem rever minha jornada
no bem da mulher amada
tá o bem da criação.

Nosso caso, nossa cama
o amor escorre ao chão
a matéria em vulcão
o mundo todo é chama
abraço de quem se ama
fogueira de são joão
em junho, a revolução
áurea de alvorada
no bem da mulher amada
tá o bem da criação.

Num timbre de patativa
euforia de passarada
poema de revoada
beijas flor em comitiva
superar expectativa
já deixasse ser paixão
libertando de ilusão
pra voar em disparada
no bem da mulher amada
tá o bem da criação.


sábado, 20 de março de 2010

Foi a tesoura do desejo.

Eu acho que é um ponto final. Aliás, eu não acredito em certos pontos finais. O mundo é um moinho, quanta pretensão acreditar que nós podemos podar nossas relações: olha, essa aqui acaba aqui, essa aqui, é só uma vírgula e nessa de cá eu boto um ponto e vírgula? Mas enfim, se pelo menos a gente não finge acreditar em pontos finais a vida não anda. Então eu acho que enfim, vem aí um ponto final daqueles. Um ponto final reticências, mas que eu devo crer que é o fim? Dessa vez eu nem quis. Na verdade, dessa vez tudo que eu quis era engolir todas as palavras sem possibilidade de vírgula nem pra respirar, nem pra engolir saliva, aliás ainda, eu não quis nem espaçoentreaspalavras, eu resolvi me entregar e viver amando tudo de umasóvez. Mas a vida é exatamente assim, quando você menos espera ela mete vírgulas, forçando um ponto. Aí você grita, chora, se debate, finge não acreditar. Pelo menos eu não carrego o peso da covardia. E se eu fosse embora não seria por ninguém, seria por mim. Prefiro deixar você impor esse fim, do que fugir nas entrelinhas. Eu fico até o fim, ainda que você vá embora. Eu amo na possibilidade do improvável, eu sei ser egoísta e ao mesmo tempo amar com muita verdade e pureza o amor do mundo todo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Rede de comunicadores em apoio à reforma agrária

Rede de comunicadores em apoio à reforma agrária
No dia 11 de março, será realizada, a partir das 19 horas, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (rua Rego Freitas 530) uma reunião para montagem da “rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais". Manifesto de lançamento do grupo denuncia a ofensiva dos setores conservadores no Brasil contra a reforma agrária e qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda.
RedaçãoData: 09/03/2010

Manifesto de lançamento

"Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.
Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.
A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.
Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.Trata-se de grave distorção.Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.
Trata-se de grave distorção.
Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.
No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...
A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.
Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.
Reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.
Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.
Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.
- Por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?
- Como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?
- Como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?"

sábado, 6 de março de 2010

Realidade textual e realidade factual.

Como movimento social, podemos entender as ações de grupos organizados por um fim, um ideal. Numa sociedade democrática, são reconhecidos. São movimentos constantes, viabilizados de acordo com os processos de mudanças dentro da estrutura do seio social, em tese, o conflito é sua mola propulsora, em sentido amplo é a insatisfação o que impulsiona o ser social em direção a busca por um ideal. Os elementos fundamentais de tais movimentos são: ideologia, organização e projeto.

É garantido pelo Estado Democrático de Direito a participação efetiva da população na política, portando-se de acordo com seus ideais, o que nos revela uma contradição através da verdadeira repressão pela qual os movimentos sociais são submetidos. Em muitos aspectos o direito não acompanha o desenvolvimento da sociedade de forma eficaz. Ou seja, o Direito é pela sociedade, sua existência é subsidiária a da mesma (ubi societas ibi jus), e mesmo sendo óbvio que ele existe para regular a vida coletiva, é possível afirmar que há uma verdadeira incoerência entre o Direito posto e a realidade factual, e, portanto, deve-se buscar um maior equilíbrio para que direito e sociedade sejam uma combinação ao menos coerente. Exemplo disso é: o direito aos povos indígenas, direitos à diversidade cultural a toda coletividade, a proteção à cultura, o direito à autonomia sobre o próprio corpo, a adaptação dos próprios movimentos sociais à nova democracia. Se houvesse um maior comprometimento do poder legiferante com a esfera social, os movimentos não se focariam tanto na busca pelos novos direitos – visto que estes, existindo o fenômeno, necessariamente deveriam existir e serem devidamente reconhecidos – e se focariam de forma mais atuante, em questão de opinar, participar de fato da própria direção e escolhas do país.
Em que medida, e democracia brasileira cria um ambiente capaz de favorecer o surgimento e a atuação dos movimentos sociais? Os movimentos sociais são a expressão de uma busca pela cidadania, pela legitimação de novos direitos que está vinculada a um reconhecimento dos diferentes atores sociais. Ou seja, reprimir os movimentos sociais significa também a privação do direito de cidadania.
O Estado de Direito garante em lei - na Carta Maior, Constituição de 1988, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político. Assim como, o exercício dos direitos sociais e individuais, mas ainda assim, como as manifestações sociais poderiam intervir de fato na democracia? Se o processo para que haja uma lei de iniciativa popular é extremamente exigente, sendo necessária a assinatura da proposta legislativa por pelo menos um por cento do eleitorado nacional, que hoje é equivalente, aproximadamente a um milhão de cidadãos, e que tal coeficiente seja distribuído por pelo menos cinco estados, com não menos de três décimos por cento de cada um deles. Inviabilizando assim, uma maior e mais efetiva participação popular. O que comprova a intenção estatal de manter à margem da sociedade, os elementos da mesma, o povo, e que demonstra que, ainda que acolhido o direito político e social pela Carta Magna, a realidade é verdadeiramente outra.
Um dos estados cuja repressão aos movimentos sociais é bastante visível é o do governo de Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul, onde são constantes as notícias de agressão aos integrantes do Movimento dos Sem Terra, constando a informação de que o Ministério Público estadual juntamente com o Governo de Yeda, determinou o fechamento de escolas itinerantes dos acampados, como mais uma tentativa de criminalizar e até dissolver o movimento numa atitude de extremismo da direita. A Brigada Militar (PM gaúcha), também representa bem a opressão estatal no que tange o MST, agindo com violência exacerbada nas desocupações das terras dos acampamentos, tratando as questões sociais como ‘caso de polícia’, mostrando-se como impopular.
Podemos de tal modo afirmar que: os movimentos sociais têm sim, reslpado na Constituição. No entanto, como muitos outros direitos resguardados e abarcados pela lex mater, na prática são desonrados de maneira explícita, oprimidos de maneira truculenta. Não adianta admitir e proteger em linhas, e deixar que os movimentos sociais sofram com a marginalização e o verdadeiro descaso como exemplifica tão bem o Governo gaúcho. O trecho abaixo é de um manifesto do Movimento dos Sem Terra, ao que se refere à morte de Elton Brum da Silva, brasileiro, quarenta e quatro anos, pai de dois filhos, morto com dois tiros de espingarda nas costas, quando a situação de desocupação já estava controlada e os trabalhadores não representavam mais nenhuma resistência:
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota pública sobre o assassinato de Elton Brum pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul: A nota denuncia a truculência polícia e responsabiliza o governo Yeda Crusius (PSDB), o Ministério Público Estadual e o Poder Judiciário pelos acontecimentos de São Gabriel:
Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.”

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Como reza toda tradição: é tudo uma grande invenção.

"A nossa tendência é colonizar o outro"(Frei Betto)

partindo do princípio que,no dito sistema imposto,não há tempo para se perder com o outro(posto isso de forma que não nos trará lucros), nos vemos num mundo em que apenas nossas idéias são aceitáveis,tendo em posição que integrar-se nas idéias alheias custa muito, muito tempo,e claro, dinheiro.
em dias que não nota-se a ausência de nuvens no céu, ou mesmo seu excesso de azul em dias que nos faltam bom dias e boa noites, onde a medida existencial é o tempo, não temos tempo pra viver, vivemos para o mesmo de forma que vivemos para o sistema, somos peças de uma engrenagem...vivemos para seguir, nunca para criar, o que nos é imposto é tido como natural e quem ousa contestar?
o sistema trabalha visando uma espécie de ausência de diferenças...no entanto, a aparente ausência delas tende por agravá-las já que, se há, diante de nós uma imagem igualitária ainda que distorcida, teremos muito mais a fazer para que antes de tudo se possa ver além dela...tornar óbvio o que já é gritante, expor o quanto é injusto, e o quanto temos sim, TUDO a ver com isso e notar que destruímos muito mais por não construir.
crer e fazer crer naquilo que não é palpável, imaterial sonhar e fazer sonharem como nós, nossos sonhos coletivos "onde a condição para o livre desenvolvimento de cada um,é a condição para o livre desenvolvimento de todos"(Marx).
não há tempo para perdemos pensando na perda do mesmo é tempo de dar as mãos e pensar nas mentes férteis, nos corações febris, nos abraços efusivos e em toda vida que(ainda)escorre por entre nossos dedos, é tempo de acreditar por mais que nos façam desistir, é jamais se entregar, hoje é o dia, agora é a hora, sem perder a ternura, JAMAIS!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Os Meninos Cinzas de Recife.

Os meninos cinzas das ruas de Santo Amaro,
Os meninos sem cor de Recife.
Me fizeram crer que era puro egoísmo,
meu bom humor de tarde quente,
meu bom humor de terça- feira de verão.
e o é,
e o somos.

Os meninos cinzas de Santo Amaro,
são meninos filhos,
meninos frutos do nosso ventre,
do ventre do nosso silêncio.
Silêncio que nos ata as mãos,
e nos cega a vista.

Os meninos cinzas de Recife,
são fruto daquilo que nos tapa a visão
da nossa covardia diante do nosso
próprio egoísmo.

Os meninos cinza de Santo Amaro,
são nascidos do nosso silêncio.
E é do nosso medo que eles morrem.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Do pescador e do poeta.


A lua, e seu poder gravítico
Empurra o mar pro pescador namorar...
E puxa o mar,
Empurrando o pescador pro além mar.

Já vistes, menina, o quanto são azuis
Os devaneios de quem é de amar?
De quem é poeta,
De quem é da pesca, de quem é do mar?

Jangadas vem e vão,
E poetas, e pescadores
Amam, e vivem
do fluxo das águas
Escrevem e pescam,
Do sopro do vento,
Dos caprichos da Lua.

O mar é quem manda, menina
na vida de um piscatório
Ele leva, ele traz, menina, já vistes?
Ele joga o coração de um homem na linha do horizonte,
na amásia
Com a força das marés de sizígia
Depois, traz docemente
O homem já cansado da labuta,
No sopro de uma leve brisa,
traz pros braços, menina
pros alicerces do porto seguro.

A lua, e sua força gravitacional
Empurra o mar pro pescador namorar...
E puxa o mar,
Empurrando o pescador pro além mar.
Empurra o mar pro pescador namorar
Empurrando o pescador pro além mar.
Empurra o mar pro pescador namorar
Empurrando o pescador pro além mar...

domingo, 10 de janeiro de 2010

A paixão de Lia.

Lia se apaixona quando se surpreende com obviedades invisíveis, o quanto brilha o que é tão óbvio a ponto de nos cegar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

O amor do mundo, o amor de Lia.

Primeiro, Lia não acreditava em amor.Depois, Lia achava que só se amava uma pessoa, uma vez na vida.Foi quando Lia viu que se pode amar várias vezes, várias pessoas, de jeitos diferentes e ao mesmo tempo. E se jogou no mar, no mar da valsa que é a vida.