terça-feira, 31 de maio de 2016

Profanas Divindades

Só para que eu escreva
e me diga aqui muito honrosamente poeta
um mundo ao meu redor se move

Só para que eu tenha a ousadia de escrever
e ainda mais ousada seja em chamar de poesia
um véu luminoso de beleza se estira sobre o caos

Só pra que eu possa me ressignificar poeta
me pus a mistificar incongruências
no fluxo da contramão
e a contemplar divindades urbanas

Exclusivamente para que eu me ponha poeta
paixões a mim foram designadas
só para o voluptuoso deleite da rima e da métrica,
e sobretudo da ausência delas

Só para que eu, pretensiosamente me diga poeta
madrugadas ébrias me foram desenhadas
doces matérias primas para que algumas palavras
possam deitar-se libidinosamente sobre o papel.


Causa e efeito

Existo e insisto em querer fazer e ser poesia.
Na beira mar da maresia,
na linha tênue dos trópicos.

Eu existo e não mais do que por insistência,
e por que não dizer por teimosia,
inspiro e tusso poesia.

Piso leve na areia,
que insiste em naufragar meus pés.
Piso e insisto em naufragar.
Piso e insisto em não ser diferente
pois de outro modo não poderia ser.

De modo errante insisto e existo
pois de outro modo apenas sobreviveria,
apenso a um corpo de perene fluidez.
E com permanente nitidez, revelo:
de que me valeria viver se não fosse pra ser poesia?

Eu que não nasci sem causa
e só por insistência
minha existência de outro modo não seria:
é a de me cobrir  com as vestes do mundo,
levantar a bandeira do amor em punho
e resvalar de poesia.

Só por insistência existo.
E existo não  pra fazer,
mas pra sentir e ser poesia.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Suave coisa nenhuma

Quantos copos
Quantos corpos
Nesta mesa repousaram?

Quantas dores
Dissabores
e amenidades
Transitaram?

Futebol,
Política
Religião
Ou a dor jubilosa de uma paixão?

Sangria, desejo
Aguardente, ou não
Suor: o manto volátil do prazer
E o o gozo: a redenção do tesão

Quantos corpos
Quantos copos
Nesta mesa repousaram?

Quantos dela se apossaram
e fizeram seus leitos
de febris de devaneios
Onde realidades mornas se findaram



segunda-feira, 2 de maio de 2016

Súbita desordem e caos

Um frio e o plástico gosto de sangue que escorre pela garganta.
O mundo ao redor é o mesmo,
mas aqui dentro, aqui dentro esse ruído ressoa e não estanca.
O mundo ao redor é o mesmo,
mas o súbito mudo de dois segundos
cuja rota fora alterada por destino ou ocasião
se perpetuará além do que há e sobretudo daquilo que nunca,
jamais
será