sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Flores no semáforo.

Olhou o relógio: 16h10....16h10? Nunca havia olhado pro relógio às 16h10! sempre ás 16h, 16h15..mas não, dezesseis e dez, definitivamente, jamais! uma cidade, uma avenida, um mundo de pessoas e idéias transitando sem saber direito pra onde nem porque, apenas indo por dever ir, sem parar pra pensar no sentido que isso faz ou deixa de fazer...até porque se fosse assim...na cidade nem mais um passo.

Pra onde vai tanta gente?

estranhos enfileirados,

uns bem juntinhos dos outros,

se encarando por não haver fuga,

e almejando escapar pelas janelas,

pelo menos nos pensamentos e num pouco mais de ar.

Nenhum deles está ali. Estão ontem, estão na sexta-feira, nos braços de seus amores, ou brincando com seus filhos. Nenhum está sentado ou de pé num ônibus lotado às 16h10. Atropelando-se os pensamentos fluem e os sentimentos fogem. Os sentidos não, estes permanecem vivos: doem as pernas, doem as costas, o corpo pede por tudo um pouco de sossego. E a cabeça? corre bem mais que o fluxo da metrópole.

Pra onde vão todas essas pessoas no mesmo sentido sem sentido algum? enfileirados, seguindo o mesmo destino em viagens tão diferentes. Parecem ter tudo em comum, mas são meros desconhecidos se aturando no mesmo espaço físico numa temperatura típica de fim dos tempos. Como sobreviver com toda gentileza e poesia diante do caos? opressão, opressão. Parece que todos querem o mesmo, e porque, sendo tantos não conseguem? tão difícil prosseguir.

Pouco a pouco, todos os guerrilheiros urbanos serão substituídos...e o que é que vai ficar? poeira. O que fica é poeira, e todo o desgaste será em vão. E a vida? ninguém para pra pensar nela, apenas vai-se sobrevivendo. O que somos, sentimos? finalmente, porque? pra que? a placa diz que a rota é esta, mas onde levará as escolhas individuais que são cada dia mais individuais? o que é uma sociedade evoluída? passar pelas ruas e ver rostos embaçados e pessoas sem nome? Caríssimos, os grandes dizem que a cidade parada tornará o mundo um caos. Mentira, se parássemos pra escutar o coração bater e o ar entrar e sair dos pulmões, se parássemos de correr só pra pensar no porque e pra onde corremos... a vida é um minuto dentro da explosão cósmica, somos meras formiguinhas inventando regras e necessidade. Parados... e a cidade florirá, voará!

Ps: viver é sonhar,

sonhar é florir por dentro,

e extrair do trânsito poesia...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Nem verso, nem reverso, nem inverso.

Não tem métrica,
não tem forma pré-definida:
é ressonância aleatória
de vibração de cachoeira
que se soma a águas outras;
nascente todo dia.
Do fluxo
que se faz;
da permissão da geografia,
seu desenho.
Não para a nascente, de nascer,
não pede licença para isso:
movimento é sua vida.
Ainda que a geografia
escolha seu desenho,
será sempre
vibração aleatória,
ressonância de cachoeira,
fluxo do que nasce todo dia.
Incondicionalmente.