quinta-feira, 25 de março de 2010

No bem da mulher amada

Nos olhos dela eu vejo
uma foz iluminada
a cabeça escancarada
pra sanar o meu desejo
se ela é dona do ensejo
viajo sem ter avião
atravesso o mar na mão
sem rever minha jornada
no bem da mulher amada
tá o bem da criação.

Nosso caso, nossa cama
o amor escorre ao chão
a matéria em vulcão
o mundo todo é chama
abraço de quem se ama
fogueira de são joão
em junho, a revolução
áurea de alvorada
no bem da mulher amada
tá o bem da criação.

Num timbre de patativa
euforia de passarada
poema de revoada
beijas flor em comitiva
superar expectativa
já deixasse ser paixão
libertando de ilusão
pra voar em disparada
no bem da mulher amada
tá o bem da criação.


sábado, 20 de março de 2010

Foi a tesoura do desejo.

Eu acho que é um ponto final. Aliás, eu não acredito em certos pontos finais. O mundo é um moinho, quanta pretensão acreditar que nós podemos podar nossas relações: olha, essa aqui acaba aqui, essa aqui, é só uma vírgula e nessa de cá eu boto um ponto e vírgula? Mas enfim, se pelo menos a gente não finge acreditar em pontos finais a vida não anda. Então eu acho que enfim, vem aí um ponto final daqueles. Um ponto final reticências, mas que eu devo crer que é o fim? Dessa vez eu nem quis. Na verdade, dessa vez tudo que eu quis era engolir todas as palavras sem possibilidade de vírgula nem pra respirar, nem pra engolir saliva, aliás ainda, eu não quis nem espaçoentreaspalavras, eu resolvi me entregar e viver amando tudo de umasóvez. Mas a vida é exatamente assim, quando você menos espera ela mete vírgulas, forçando um ponto. Aí você grita, chora, se debate, finge não acreditar. Pelo menos eu não carrego o peso da covardia. E se eu fosse embora não seria por ninguém, seria por mim. Prefiro deixar você impor esse fim, do que fugir nas entrelinhas. Eu fico até o fim, ainda que você vá embora. Eu amo na possibilidade do improvável, eu sei ser egoísta e ao mesmo tempo amar com muita verdade e pureza o amor do mundo todo.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Rede de comunicadores em apoio à reforma agrária

Rede de comunicadores em apoio à reforma agrária
No dia 11 de março, será realizada, a partir das 19 horas, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (rua Rego Freitas 530) uma reunião para montagem da “rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais". Manifesto de lançamento do grupo denuncia a ofensiva dos setores conservadores no Brasil contra a reforma agrária e qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda.
RedaçãoData: 09/03/2010

Manifesto de lançamento

"Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária, e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para compreender o que está em jogo.
Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada “grande imprensa brasileira” – associados a interesses de latifundiários, grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger aqueles que lutam pela reforma agrária.
A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados. Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido, produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é "marginal". Exemplo claro de “criminalização” dos movimentos sociais.
Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.Trata-se de grave distorção.Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas, o governo planeja rever os “índices de produtividade” que ajudam a determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e “provar” que os que derrubaram pés de laranja são responsáveis pela “violência no campo”.
Trata-se de grave distorção.
Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante que atirou a pedra.
No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...
A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos. Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes (normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.
Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas ainda dominado pelo latifúndio.
Reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se explica – em parte – pelo deslocamento desorganizado de populações que são expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias das grandes cidades.
Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma agrária.
Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.
- Por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja dividida?
- Como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?
- Como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no Brasil?"

sábado, 6 de março de 2010

Realidade textual e realidade factual.

Como movimento social, podemos entender as ações de grupos organizados por um fim, um ideal. Numa sociedade democrática, são reconhecidos. São movimentos constantes, viabilizados de acordo com os processos de mudanças dentro da estrutura do seio social, em tese, o conflito é sua mola propulsora, em sentido amplo é a insatisfação o que impulsiona o ser social em direção a busca por um ideal. Os elementos fundamentais de tais movimentos são: ideologia, organização e projeto.

É garantido pelo Estado Democrático de Direito a participação efetiva da população na política, portando-se de acordo com seus ideais, o que nos revela uma contradição através da verdadeira repressão pela qual os movimentos sociais são submetidos. Em muitos aspectos o direito não acompanha o desenvolvimento da sociedade de forma eficaz. Ou seja, o Direito é pela sociedade, sua existência é subsidiária a da mesma (ubi societas ibi jus), e mesmo sendo óbvio que ele existe para regular a vida coletiva, é possível afirmar que há uma verdadeira incoerência entre o Direito posto e a realidade factual, e, portanto, deve-se buscar um maior equilíbrio para que direito e sociedade sejam uma combinação ao menos coerente. Exemplo disso é: o direito aos povos indígenas, direitos à diversidade cultural a toda coletividade, a proteção à cultura, o direito à autonomia sobre o próprio corpo, a adaptação dos próprios movimentos sociais à nova democracia. Se houvesse um maior comprometimento do poder legiferante com a esfera social, os movimentos não se focariam tanto na busca pelos novos direitos – visto que estes, existindo o fenômeno, necessariamente deveriam existir e serem devidamente reconhecidos – e se focariam de forma mais atuante, em questão de opinar, participar de fato da própria direção e escolhas do país.
Em que medida, e democracia brasileira cria um ambiente capaz de favorecer o surgimento e a atuação dos movimentos sociais? Os movimentos sociais são a expressão de uma busca pela cidadania, pela legitimação de novos direitos que está vinculada a um reconhecimento dos diferentes atores sociais. Ou seja, reprimir os movimentos sociais significa também a privação do direito de cidadania.
O Estado de Direito garante em lei - na Carta Maior, Constituição de 1988, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político. Assim como, o exercício dos direitos sociais e individuais, mas ainda assim, como as manifestações sociais poderiam intervir de fato na democracia? Se o processo para que haja uma lei de iniciativa popular é extremamente exigente, sendo necessária a assinatura da proposta legislativa por pelo menos um por cento do eleitorado nacional, que hoje é equivalente, aproximadamente a um milhão de cidadãos, e que tal coeficiente seja distribuído por pelo menos cinco estados, com não menos de três décimos por cento de cada um deles. Inviabilizando assim, uma maior e mais efetiva participação popular. O que comprova a intenção estatal de manter à margem da sociedade, os elementos da mesma, o povo, e que demonstra que, ainda que acolhido o direito político e social pela Carta Magna, a realidade é verdadeiramente outra.
Um dos estados cuja repressão aos movimentos sociais é bastante visível é o do governo de Yeda Crusius (PSDB), no Rio Grande do Sul, onde são constantes as notícias de agressão aos integrantes do Movimento dos Sem Terra, constando a informação de que o Ministério Público estadual juntamente com o Governo de Yeda, determinou o fechamento de escolas itinerantes dos acampados, como mais uma tentativa de criminalizar e até dissolver o movimento numa atitude de extremismo da direita. A Brigada Militar (PM gaúcha), também representa bem a opressão estatal no que tange o MST, agindo com violência exacerbada nas desocupações das terras dos acampamentos, tratando as questões sociais como ‘caso de polícia’, mostrando-se como impopular.
Podemos de tal modo afirmar que: os movimentos sociais têm sim, reslpado na Constituição. No entanto, como muitos outros direitos resguardados e abarcados pela lex mater, na prática são desonrados de maneira explícita, oprimidos de maneira truculenta. Não adianta admitir e proteger em linhas, e deixar que os movimentos sociais sofram com a marginalização e o verdadeiro descaso como exemplifica tão bem o Governo gaúcho. O trecho abaixo é de um manifesto do Movimento dos Sem Terra, ao que se refere à morte de Elton Brum da Silva, brasileiro, quarenta e quatro anos, pai de dois filhos, morto com dois tiros de espingarda nas costas, quando a situação de desocupação já estava controlada e os trabalhadores não representavam mais nenhuma resistência:
“O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgou nota pública sobre o assassinato de Elton Brum pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul: A nota denuncia a truculência polícia e responsabiliza o governo Yeda Crusius (PSDB), o Ministério Público Estadual e o Poder Judiciário pelos acontecimentos de São Gabriel:
Relembrar à sociedade brasileira que os movimentos sociais do campo tem denunciado há mais de um ano a política de criminalização do Governo Yeda Crusius à Comissão de Direitos Humanos do Senado, à Secretaria Especial de Direitos Humanos, à Ouvidoria Agrária e à Organização dos Estados Americanos. A omissão das autoridades e o desrespeito da Governadora à qualquer instituição e a democracia resultaram hoje em uma vítima fatal.”