terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Fêmea

toma tua culpa fecunda do ventre que te pariu condição primeira de tua existência. mulher: nasceste sentenciada e condenada ao julgamento num jogo de cartas marcadas que grita na tua cara: culpada. carregas tua culpa e veja bem que agressiva e doce fúria é tua luta pelo simples fato de ser quem és. fêmea, esse sangue derramado essas feridas não curadas esses caminhos tortuosos e os espinhos que te ferem e que te talham a pele neste campo de batalha que é estar sair ou ficar simplesmente sendo quem és: mulher. mostra com orgulho tuas cicatrizes e levanta deste chão pisa com a leveza dos teus pés o rosto do teu algoz que outrora te deita na guilhotina. Fala mais alto que o falo mulher transmuta tua culpa em coragem ergue em riste este punho ferido e grita: livre. (até que todas sejamos).


(segunda-feira, 23 de janeiro de 2017)

domingo, 8 de janeiro de 2017

Poesia para Vênus em Câncer

Analiso minuciosamente a geografia deste nosso desencontro: outrora tão conexo e aqui neste momento deveras convexo e eu sigo na busca de consultar os astros as auroras e a atmosfera metafísica que nos rodeia. Já consultei cartas de tarô búzios e ciganas já busquei ler até a planta dos teus pés já que a leitura das palmas de tuas mãos nada me revelou. É parece mesmo que o cruzar de nossas calçadas fora mais um destes fenômenos intrínsecos aos anos bissextos e noites de super lua em escorpião ou a última quimera do fim dos mundos onde lá fora tudo explode e aqui dentro reina a paz e o calor de um fogo que não queima mas arde. Na verdade bem verdade meu peito de sal de frutas anseia uma pista de se e quando tua nascente desemboca em minha boca e no beijo do mar do meu prazer mesmo que seja pra depois como se derretesse ou como se fosse diluído e evaporasse apenas seguisse em perene fluidez pra nunca mais voltar que seja ar só pra minha poesia ter um pouco mais do que recordar aos pouquinhos numa rememória prazerosa e ao mesmo tempo dolorida que apesar de machucar eu vos digo: sempre valerá a pena correr o risco de um rabisco doloroso que descende de alquimias genuinamente sentidas com intensidade e calor mostro sempre com orgulho a cicatriz de ser assumidamente de quem sou. Minha.

(terça-feira, 3 de janeiro de 2017)

Aprendizagens II

Do amor, assim como da vida e da morte não é possível qualquer certeza:
Buscamos de maneira insana nos cercarmos de seguranças sobre estes, desejando incessantemente encontrar um lugar confortável pra repousar nossas demandas, dúvidas e anseios. Assim como do amor, da vida e da morte ninguém escapa, não há também sossego nessa busca inútil e refutável de conforto e certezas.
Amor, vida e morte são como borboleta na flor
O cheiro da brisa do mar
Passarinho na janela
Por do sol cor de rosa e laranja
O mar deitado no colo do céu azul
É o braço em laço dentro de um carinhoso abraço
A única verdade possível pro amor
Pra vida e pra morte
É a entrega
(Feito pular de olho fechado num véu de cachoeira)
E esta só se faz
No caminho do incerto, pois certeza é demanda do ego
Já a entrega, entrega é coisa do coração.

(sábado, 31 de dezembro de 2016)

Vinho

Tinto ou branco 
Sabor frutado
O que importa 
É o fim do patriarcado

(sexta-feira, 30 de dezembro de 2016)


Coracional

A lua embaça a vista embaraça o que trago na pele quente que arde e transborda socorro do que trago em mim e muito que sou de ti transeunte passagem ausente que presente se faz no quanto para e estanca sem nunca ter sido sangria este rio que corre e corre sem pressa num tempo que lhe é só seu sem o qual não seria de um jeito que nunca é o mesmo estando sempre perene onde nasce e morre feito utopia de um velho comunista que dormiu guerrilheiro e acordou reaça ou budista e rechaça tudo que flui e sou.

(quinta-feira, 15 de dezembro de 2016)

Enigma VIII

Este teu corpo que cintilante ao sol se faz enquanto tua pele queima e arde e o azul que incendeia teu caminhar ao passo que teu corpo corta o vento feito uma faca afiada feito esta faca amolada que são teus alvos dentes cortando o tecido de uma manga espada e sua carne amarela doce e que nos enche os lábios de sabores odores e de um prazer sem fim assim como faz tua boca quando toma outro corpo nu feito fruto maduro colorido e tropical ao passo que cai ao solo árido úmido as chuvas de pitangas ensanguentando as calçadas e esse ar morno que nos turva a vista e que ainda assim nos enche os olhos e afaga o coração e de ar o pulmão que pulsa e essa força que nunca cessa feito o verão que toma emprestado o teu calor e que também jamais cessará.

(segunda-feira, 12 de dezembro de 2016)