segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Vício

Aqui, algo me atravessa
Feito espada fria e cintilante
Cruza e corta a carne do que sinto
Me tomando em grandes goles

Feito dependência
E feito vício me incendeia
Transitando entre vontades

Aqui em mim está impressa
A dependência que me leva
E me põe na contramão de mim mesma
Feito devaneio
Ou Ilusão.

(Sexta-feira, 12 de agosto de 2016)

Fascínio

De perto te vejo distante
E observo teus trejeitos
Daqui contemplo tuas mãos 
Que levam vagarosamente
O álcool até tua boca
Observo cuidadosamente também
Teus dedos e anéis
Batucando um sambinha na mesa de metal
Daqui vejo teu cabelo prateado
E teu olhar de sorriso rarefeito:
Deixando o ar inebriado
Teu olhar frio - feito a mesinha de metal
Faz o meu coração entrar em ebulição
Quando cruza com o meu
E mesmo sem desejar
Eu volto mais uma vez a te procurar
Só pra assistir teu copo passear
Pairando no ar até te beijar

(sexta-feira, 12 de agosto de 2016)

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Quarenta e quatro

O burguês opressor
Quarenta e quatro horas semanais (e mais)
Das oito às dezoito
E o repouso: - dispensável se faz!

O burguês opressor
Sutilmente toma o subordinado oprimido
Com a força moto-contínua
De um rolo compressor
Atropelando um comprimido.

Quarenta e quatro horas semanais
(E mais).

(terça-feira, 2 de agosto de 2016)

Primavera Visceral

Do lado esquerdo deste peito
entre o seio transverso do pericárdio
e o arco da aorta
em movimentos involuntários
explodem primaveras viscerais

Bem aqui do lado esquerdo deste feito
quase que por fisiológica necessidade
sentimentos e palavras percorrem dentre os vasos
onde de dentro transbordam
e flutuam em espirais

Aqui dentro neste entranhado peito
mora uma poesia que já nasce anarquista: fêmea, divina, e marginal!
Entre estas veias correm sem qualquer limiar ou pudor
algo intenso místico e profundo sem qualquer governo
aqui onde explodem sentimentos e palavras venerais

Nas cavidades anatômicas deste pleito
nessas estranhas entranhas algo soa tão sereno
silenciar minhas palavras é tomar do meu próprio veneno:
é morrer aprisionando o que já nasce livre e pleno
aqui onde explodem primaveras viscerais!

(quarta-feira, 13 de julho de 2016)