quinta-feira, 24 de maio de 2018

CTPS



Justiça do trabalho do Recife. 24 de Maio de 2018.


Hoje é o dia do julgamento de Lula. Sim, Lula. Que saudade do meu Ex. Sim, esse ex presidente amado ou odiado, não existe meio termo. A gente teima em misturar política, amor, idealismo, emoção. É coisa da gente mesmo, temperamento latino é fogo.


Enquanto o mundo explode. Ele está lá: sentado, camisa pólo meio gasta, mas você vê que ele escolheu cuidadosamente. Sua pele já marcada pelo tempo, o suor escorrendo pela testa às nove da manhã denuncia o caminho percorrido através do transporte coletivo lotado de tantos outros iguais a ele. Iguais e diferentes, como somos.


Na sacola transparente alguns documentos, dentre eles a CTPS. Sim, a carteira de trabalho. Pra maioria dos trabalhadores brasileiros a Carteira azul com letras brancas é uma espécie de amuleto, algum passaporte de dignidade e respeito.


Trabalhou cerca de vinte ou trinta anos, dedicou sua vida para alguma atividade árdua (as mãos calejadas sugerem).  Pegou o mesmo ônibus, no mesmo horário todas as manhãs. Na bolsa, levou a marmita provavelmente preparada pela esposa lá pelas cinco e meia da manhã. Todos os dias. Vinte ou trinta anos.


Voltou em horários variados (pois há hora pra chegar e não pra sair), pegou seus filhos em casa sempre dormindo. Perdeu os primeiros passos do neto, as primeiras palavras talvez. Não teve tempo para ócio criativo ou poesia. Não teve tempo algum pra pensar que poderia pensar de modo diferente, e feito gado foi sendo tangido para as rédeas que a vida lhe foi oferecendo.


Neste dia mesmo, um operário vai a julgamento. Um julgamento que já começa injusto. Assim como a audiência deste e de outros trabalhadores será hoje na justiça do trabalho. O motivo? Todos perdemos pro capital. Vende-se a força de trabalho, vende-se seu tempo, se esvai a vida, a saúde. Do outro lado: enriquece o empresário, blinda carro, reforça-se a bolha. Talvez o filho do trabalhador que eu observo veja tudo de outro prisma. Talvez ele esteja numa universidade federal, tudo culpa desse outro operário que hoje também visita a justiça.


Eles são iguais. Porém diferentes.


É tão difícil perceber? Hoje todos saímos perdendo. Um acordo? Mil reais, quitação do contrato de trabalho, fim da linha. O preço de uma vida inteira de trabalho. Uma condenação, ficha limpa, eleição sem Lula não é o preço. O preço é a democracia. Mas assim como a justiça do trabalho, ainda existe democracia?

É tudo igual. Diferente e igual.