sexta-feira, 18 de junho de 2021

Morada

Nas minha mãos moram o cheiro

da chave prateada

girando a maçaneta

do medo

apertando a bolsa

da caneta

registrando o dia

o toque

do papel amarelado

o aroma

da formiga que passeou

entre dedos

da planta florida

que me abraçou

do dinheiro

que troquei pelo cheiro

do pão recém saído

do forno onde fez morada

depois de crescer

nas mãos do criador

na minha mão

mora o cheiro

de uma gata

da erva cidreira

do sabonete e da alfazema


eu sei que o mundo mora em mim

pois guardo seu cheiro em minhas mãos.


quarta-feira, 16 de junho de 2021

Erva doce

Certa vez meu pai me disse que Seu Tiago, meu avô, não tomava café. Essa informação me chamou atenção porque tanto eu, quanto meu pai, gostamos muito de café. Meu pai disse que seu pai, tomava chá de erva doce. Essa informação me chamou atenção porque eu acho lindo, elevado e fino quem toma chá no lugar de café. E pela natural poesia de uma erva que se assume doce. Penso no meu avô, sertanejo das bandas de Itapetim, garçom, pai de seis filhos. Penso no tão pouco que convivemos, lamento por isso. Mas me contento em saber que sempre que eu puser a água para ferver uma erva doce, será como abraçá-lo, a ele, e a meu pai. 

"Meu pai também gostava de chá de canela e lá na casa tinha um pé. Fazíamos chá de canela ou das folhas ou da casca. Também usávamos as folhas para perfumar a casa quando havia festa, como aniversário. Quando se dança numa sala, pisando nas folhas de canela, elas se quebram e exalam o doce perfume da seiva."