quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ceticismo e as instituições panópticas


Do ceticismo.

O ceticismo carrega o pressuposto de que não devemos crer em algo que não possui nenhum fundamento para que devamos supor que seja 'verdade'. O ceticismo basicamente veda a atitude de acreditar por acreditar. É importante, contudo, colocar a idéia de que o ceticismo absoluto é auto-destruídor, pois ao afirmar que o conhecimento não é possível está expressando com isso um conhecimento. O fato é que se nós todos aplicássemos doses céticas ao nosso dia-dia, nossa vida em sociedade estaria verdadeiramente comprometida, visto que quando colocados à salvo dos valores céticos o sistema político e a religião são incotestáveis, irrepreensíveis. O poder disciplinar perderia sua força, pois as instituições teriam seus poderes dogmáticos amplamente inviabilizados, o que impossibilitaria um perfeito controle e vigilância do sujeito individual.

Do poder disciplinar.

O poder disciplinar para Michel Focault é a produção positiva de comportamento, é o modo de produção de verdades da sociedade moderna. A partir de procedimentos de vigilância e registro dos indivíduos é que se estrutura o controle do comportamento. A sociedade disciplinar é povoada de práticas e instituições reiteradas que determinam o que é normal e o que é patológico, verdadeiro ou falso, certo ou errado. Para Focault, escolas, prisões, hospitais, todos tem o intuito de trazer de volta os indivíduos que fugirem de tais padrões de normalidade impostos (ou impedir que fujam) através do discurso jurídico. O poder disciplinar põe rédeas, cercam o indivíduo. As instituições 'panópticas' controlam o tempo, os corpos e as mentes. Em tese, o poder disciplinar objetiva a manipulação da existência por inteiro do indivíduo, marginalizando os que ousarem fugir à sua regra, reprimindo a natureza humana. Para Bertrand Russel em ENSAIOS CÉTICOS, a regularidade e a rotina impostas pela sociedade moderna exercem controle sufocante a questões que deveriam ser livres (arte, amor) e deixam fluindo livremente seus opostos, como a crueldade a inveja e o ódio, cultivados com plena devoção, sempre tão presentes no viver do sujeito moderno.

* Dentre os dispositivos de vigilância do início do século, podemos destacar o Panóptico, um mecanismo arquitetural, utilizado para o domínio da distribuição de corpos em diversificadas superfícies (prisões, manicómios, escolas, fábricas). O Panóptico era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na torre havia um vigilante.

* Ou seja, a idéia do controle da estrutura social panóptica é a de que você não sabe nunca se tem ou não alguém na torre, e de qualquer ângulo você vai estar sendo observado, e portanto, regido.

4 comentários:

Fred Caju disse...

Como é bom freqüentar um sítio feito por pessoas inteligentes. Para os amadores que cults que ficaram curiosos em ver um ambiente panóptico de pertinho, vão a Casa da Cultura e de quebra ainda comprem um artesanato.

Unknown disse...

bom pra caralho.
ei, me diz uma coisa: é chato ser assim, tão foda?

Heideger (Ler-se Ráideguer) Nascimento disse...

Sempre tenho lido, mas hoje eu tenho que - também - comentar.

Minhas congratulações moça.
Muito bom mesmo.
Não conhecia o sistema panóptico.

"a regularidade e a rotina impostas pela sociedade moderna exercem controle sufocante a questões que deveriam ser livres"

Anônimo disse...

Haja panoptismo: todos te lêem! Parabéns, Katarine. Tuza.